Hoje é domingo, o relógio marca nove horas em ponto. Todos saíram para ir à praia e eu fiquei aqui sozinho, sentado na minha velha cadeira, olhando para aquele aflito papel em branco. Em pleno século XXI e eu ainda tenho esse costume de escrever ao invés de digitar. Escrevo, mesmo que tenha que digitar ao final. Acho que ainda acredito que o lápis, com seu grafite opaco, como minhas ideias nesse momento, inspiram-me muito mais do que aquela tela fria do computador e aquele teclado, cujos ruídos ao ser usado tanto incomoda a minha mãe, que é viciada em silêncio.
Contudo, hoje eu não escrevo por necessidade pessoal, para por para fora minhas angústias ou me perder nos labirintos formados pelas palavras, que parecem bichos com vida própria.
Escrevo, porque a Marina me pediu. Ah, essas mulheres adoram nos pedir o impossível! Quisera eu que ela tivesse me pedido um vestido novo ou um anel de brilhantes. Mas, ela me pediu um poema.
Meu Deus, será que ela não sabe que poema não se pede, não se encomenda, não se compra, nem se conquista?
Poema tem que sair de dentro da alma, mas fazendo uma paradinha no nosso cérebro, que é pra ver se ganha sentido ou se confunde mais ainda e se transforma num grande poema.
O pior é que ela me disse exatamente o que queria: “Quero um poema com o título ‘Como explicar o amor? ’, você faz?”
(Como eu ia dizer não, se a amava em segredo há sete meses, e esse era o primeiro pedido dela?!).
Então disse que faria o bendito poema, ou maldito poema, pois desde as cinco da manhã que eu estou sentado aqui e nada. Já escrevi, apaguei, escrevi e apaguei de novo, já rasguei quase todas as folhas do meu caderno e nada... Na cabeça só um pensamento: “Por que ela não me pediu um vestido?”
Bom, pelo menos o título eu tinha, e isso é tão esquisito, pois para mim o título deve vir no fim de tudo, depois de todo o desespero, quando a gente sorrir e diz: “Terminei!”, aí ele vem como uma cereja num bolo confeitado.
Meio dia, nem tinha comido nada ainda... Mas como comer se nem um versinho sequer eu tinha?
Foi então que eu pensei o óbvio: “Amor não se explica, ué!”, pois tantos poetas tentaram, mas sempre fica algo inacabado.
Então, eu escrevi:
Como explicar o amor?
...mas ele é inexplicável...
E saí de casa em disparada para levar o poema ao seu destino: as mãos de Marina. Na cabeça, um turbilhão de ideias, o coração batendo acelerado. Mas, a dúvida gritou em meus ouvidos: “E se ela não gostar?”
(Paciência! Não dá pra escrever sob encomenda!)
Então, diminui os passos e fui caminhando lentamente, e o caminho era como os meus pensamentos, parecia não ter mais fim.
Luciana Braga (Em: 16.08.10).
merece ser lido! =)