– Teu egoísmo me espanta. Foi com esta frase que Pedro começou a tão adiada conversa com Fernanda, ao ouvi-la, ela deu um sorriso meio amarelado, pois sabia que hoje o seu homem não iria poupá-la de nada.
– Fernanda, foram cinco anos de doação plena e você nem se quer se despediu de mim! Por que tamanha frieza com a nossa paixão, com o amor que te dei? A tua vida foi a minha vida e eu era feliz, sabia? Vai, anda, me diz, olhando para mim que você também não foi feliz.
Pedro já não tinha mais força de apontar o dedo para Fernanda e começou a chorar compulsivamente.
– Pedro, você sabe que eu fui feliz ao teu lado, só que os nossos planos já não são os mesmos. Eu não posso desistir da minha carreira profissional, logo agora que estou começando a me bancar do que faço.
– Você chama cantar na noite de carreira profissional?
– Quando eu te conheci, você também cantava na noite, sabia que sou feliz fazendo isso?
– Fernanda, a gente cantava por diversão e não para ganhar dinheiro.
– Pedro, eu não nasci com herança como você. Poxa, tenho que correr atrás do meu, o seu já está ganho.
– Você sabe que não é bem assim. Enquanto você só cantava, tive o cuidado de também estudar e terminar a faculdade de administração, enquanto você largou tudo no segundo semestre.
– Meu bem, iria ser infeliz estudando aquelas teorias econômicas, desisti enquanto havia tempo de não me entregar ao conformismo.
– E você não me ama mais?
– Ainda sei cada gesto que te faz feliz, mas a gente está fazendo mal um ao outro, não lembro de ter essa fase nas nossas juras de amor.
– Eu só quero tê-la ao meu lado.
– Mas ficando ao teu lado, eu não serei eu, serei a dona de casa e mãe dos nossos filhos, apenas. Eu quero mais, sabe Pedro, eu quero mais.
– Fica, por favor, pelo nosso amor.
– Teu egoísmo também me espanta, Pedro.
– A banda chegou, agora tenho que ir, senão, corro o risco de perder o voo para Itália.
– Eu posso te esperar?
– Não sei se volto ao Brasil, quero conhecer o mundo e realizar todos os sonhos que construímos à luz do pôr do sol da ponte metálica. Não tem mais jeito, cada um já fez a sua escolha.
–Eu escolhi você.
–Eu escolhi viver.
Gil Sousa
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