Há muito tempo o amor sofre ameaças:
Ser limitado, aprisionado, definido.
Como as areias oscilantes de uma ampulheta,
ser sempre o reverso de outro amor,
ranço do que já foi.
***
O amor não é e jamais será boa coisa.
É um poço de areia movediça:
uma vez imerso, não há mais volta.
Tudo passa a ser uma ânsia febril por presença
como o viciado em abstinência por sua heroína.
O passar das horas será marcado
pelo resquício de um sonho que
deixa um gosto bom na boca.
E a existência será uma busca
faminta e alucinada
por antever o cheiro de braços
e sentir o tremor de uma voz
doce e grave nos ouvidos.
Os sentidos serão inebriados
pelas gotículas embaçadas de um nevoeiro
onde nos perdemos nos labirintos de atenções e carinhos.
***
Mas toda presença leva a uma ausência:
De chamas para cinzas.
De neblina para chuva ácida.
De amantes para amigos.
De “te amo” para "bom dia”.
Da boca só escorrerão palavras amargas
E todos os momentos serão maculados
pela fuligem do esquecimento.
O mundo será surdo e distorcido como uma vida submersa.
As cartas de amor serão serragem
a se desperdiçar na multidões.
***
Sedimentam-se os grãos arenosos do tempo,
e a eles se misturam flocos de amor e esperança.
Todo o amor uma vez depositado em alguém
se tornará pedra.
Quando somos jovens, acreditamos
que sempre há um novo começo
Mas verdadeiros começos
nascem poucas vezes.
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