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Tecendo a Escritura

Olá, Nosso Blog é uma janela de acesso aos textos escritos no Laboratório de Criação Literária, in-disciplina desgovernada pelo Cid, professor da Universidade Federal do Ceará. Boa leitura!

Portas Abertas


             Arrancou as portas. Arrancadas parecia mais convidativo, ameaçador. Arranjou ali uma cadeira. Um pedaço do cano longo se mostrava obscuro e suntuoso.
            O casarão remoto, agora sem portas, parecia mais antigo. As paredes descascadas contrastavam com a expressão do Velho. Ali se montara rapaz, fizera patrimônio.
            - Minha honra, desde que aqui me acheguei, eu mesmo que fiz!
            - Eu sei, sei!
            - E um cabra desse acha que pode se impor!
            Fora ameaçado. Logo ele, amigo de coronel e comerciante, dono das casas, das terras da cidadezinha nova.
            O Velho reclamava da vista. A idade avançada e o trabalho que ainda exigia um bocado roubavam-no a pouca saúde. Mas teimava, lutava contra os infortúnios, resolvia se fosse necessário resolver. Os anos cruzavam irremediavelmente, mas restava a força do espírito, do orgulho que liderava mais.
            - Essa minha vista tá escurinha...
            As entradas do casarão ficaram abertas, dia e noite. Foi período de expectativa. Até que elas se fechassem, cumprir-se-ia ali um fadário.
            O outro velho, dono da casa da frente, bruto demais, por isso mesmo cheio de inimizades. Era um palavreado que só ele.
            - Esse velhinho tá se achando que governa. Meto-lhe nas fuças!
            - Homi... olha que valentia é força!
            - Entro é com tudo!
            O Velho quando soube, o martelo ecoou num estampido denso. As portas do casarão postas a baixo. O outro velho, quando entrava em casa, se deparou com aquelas portas imensas, pesadonas.
            - Que se foi?
            - Ele derribou as portas, sozinho.
            - ...
            - Inda anunciou: homi com ele se resolve é com as portas abertas!
            E o Velho esperou, esperou... Passava a tarde. Só entrava quando as luzes se apagavam. E foi muito andamento que isso persistiu. O outro velho, introvertido. Caminhava, olhava pouco para os lados. Um olho terrível o seguia.
            Em noite de festa, uns tantos que persistiam em vadiar, se reuniram no banco de frente ao casarão. Foi quando viram o Velho correr.
            - Mas olhe só, o velho ainda tem pé!
            Acertara-o bem no pé da nuca. E proclamava:
            - Homi comigo é de portas abertas!
            Chegou com o lampião, o rosto do homem parecia novo demais. As portas abertas, mas o Velho estava atento. Por isso mesmo que só bastou um disparo. Mas o homem parecia novo demais. Coçou a cabeça, bocejou qualquer desgraça, passou a mão na vista, mas teve tempo de pensar que era isso mesmo.
            - Meter-se às escondidas...
            De manhã cedo, um e outro cumprimentando o Velho.
            - Meu velho! Soube do feito. O homi inda tá cheio de vida!
            - Que nada... Olhe que eu errei o tiro.

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                - Minha honra, desde que aqui me acheguei, eu mesmo que fiz!
                - Eu sei, sei!
                - E um cabra desse acha que pode se impor!
                Fora ameaçado. Logo ele, amigo de coronel e comerciante, dono das casas, das terras da cidadezinha nova.
                O Velho reclamava da vista. A idade avançada e o trabalho que ainda exigia um bocado roubavam-no a pouca saúde. Mas teimava, lutava contra os infortúnios, resolvia se fosse necessário resolver. Os anos cruzavam irremediavelmente, mas restava a força do espírito, do orgulho que liderava mais.
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                As entradas do casarão ficaram abertas, dia e noite. Foi período de expectativa. Até que elas se fechassem, cumprir-se-ia ali um fadário.
                O outro velho, dono da casa da frente, bruto demais, por isso mesmo cheio de inimizades. Era um palavreado que só ele.
                - Esse velhinho tá se achando que governa. Meto-lhe nas fuças!
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                - Que se foi?
                - Ele derribou as portas, sozinho.
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                Em noite de festa, uns tantos que persistiam em vadiar, se reuniram no banco de frente ao casarão. Foi quando viram o Velho correr.
                - Mas olhe só, o velho ainda tem pé!
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                - Homi comigo é de portas abertas!
                Chegou com o lampião, o rosto do homem parecia novo demais. As portas abertas, mas o Velho estava atento. Por isso mesmo que só bastou um disparo. Mas o homem parecia novo demais. Coçou a cabeça, bocejou qualquer desgraça, passou a mão na vista, mas teve tempo de pensar que era isso mesmo.
                - Meter-se às escondidas...
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