Arrancou as portas. Arrancadas parecia mais convidativo, ameaçador. Arranjou ali uma cadeira. Um pedaço do cano longo se mostrava obscuro e suntuoso.
O casarão remoto, agora sem portas, parecia mais antigo. As paredes descascadas contrastavam com a expressão do Velho. Ali se montara rapaz, fizera patrimônio.
- Minha honra, desde que aqui me acheguei, eu mesmo que fiz!
- Eu sei, sei!
- E um cabra desse acha que pode se impor!
Fora ameaçado. Logo ele, amigo de coronel e comerciante, dono das casas, das terras da cidadezinha nova.
O Velho reclamava da vista. A idade avançada e o trabalho que ainda exigia um bocado roubavam-no a pouca saúde. Mas teimava, lutava contra os infortúnios, resolvia se fosse necessário resolver. Os anos cruzavam irremediavelmente, mas restava a força do espírito, do orgulho que liderava mais.
- Essa minha vista tá escurinha...
As entradas do casarão ficaram abertas, dia e noite. Foi período de expectativa. Até que elas se fechassem, cumprir-se-ia ali um fadário.
O outro velho, dono da casa da frente, bruto demais, por isso mesmo cheio de inimizades. Era um palavreado que só ele.
- Esse velhinho tá se achando que governa. Meto-lhe nas fuças!
- Homi... olha que valentia é força!
- Entro é com tudo!
O Velho quando soube, o martelo ecoou num estampido denso. As portas do casarão postas a baixo. O outro velho, quando entrava em casa, se deparou com aquelas portas imensas, pesadonas.
- Que se foi?
- Ele derribou as portas, sozinho.
- ...
- Inda anunciou: homi com ele se resolve é com as portas abertas!
E o Velho esperou, esperou... Passava a tarde. Só entrava quando as luzes se apagavam. E foi muito andamento que isso persistiu. O outro velho, introvertido. Caminhava, olhava pouco para os lados. Um olho terrível o seguia.
Em noite de festa, uns tantos que persistiam em vadiar, se reuniram no banco de frente ao casarão. Foi quando viram o Velho correr.
- Mas olhe só, o velho ainda tem pé!
Acertara-o bem no pé da nuca. E proclamava:
- Homi comigo é de portas abertas!
Chegou com o lampião, o rosto do homem parecia novo demais. As portas abertas, mas o Velho estava atento. Por isso mesmo que só bastou um disparo. Mas o homem parecia novo demais. Coçou a cabeça, bocejou qualquer desgraça, passou a mão na vista, mas teve tempo de pensar que era isso mesmo.
- Meter-se às escondidas...
De manhã cedo, um e outro cumprimentando o Velho.
- Meu velho! Soube do feito. O homi inda tá cheio de vida!
- Que nada... Olhe que eu errei o tiro.[Madjer]
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