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Tecendo a Escritura

Olá, Nosso Blog é uma janela de acesso aos textos escritos no Laboratório de Criação Literária, in-disciplina desgovernada pelo Cid, professor da Universidade Federal do Ceará. Boa leitura!

Concessão

Pôde enfiar profundamente o fio da lâmina no peito... sem esperas, sem concessões. Arrancou, desentranhando voluptuosamente talvez os últimos pedaços daquele corpo já sem vida, lasso, funesto, e outras sentenças que ela procurava adicionar ao que abandonou em suas mãos. Imaginava que ali seria o fim. A redenção de toda a dor... No meio do peito! – concebia que era no meio do peito, o lado direito ou o lado esquerdo deixou para as metáforas – no meio da carne!
            – A...deus?...
            A palavra não o importunou pelo fato de significar o gesto ou sinal de despedida ou separação física entre sujeitos; sim pelo elevador atarracado em sua garganta: as engrenagens enferrujadas, o ranger queimando as cordas vocais, a saliva seca. Pesou como um pé furioso esmagando uma barata que se esconde entre os livros da estante e busca salvar-se desabotoando as asas. E ela, sem concessões, odiava terrivelmente as baratas.
            Quando se viu na rua sem sol, sem cor, sem chão, procurou andar pausadamente e respirar sem culpas, pois pesava em suas mãos o que ela o entregou sem nenhuma chance de vida. Mas ainda assim, sentiu-se responsável, e chorou. Não a queixa dos infelizes, mas a dos perdidos. Sentia, de súbito, os soluços clamando-lhe algo informe; os olhos encarnados, respondendo ao que experimentava o sangue na face a percorrer-lhe abrasadamente. Mas ainda tentou respirar sem culpas e deu um suspiro fundamente... perdendo os olhos nas ruas sem fim, sem fim...
            Sua casa agora era uma alta torre. Perdeu-se ali para encontrar uma solução que pudesse reavivar o corpaço lhe entregue. Intentou ondas eletromagnéticas, e a vida sempre ocupada; esforçou-se na cirurgia de uma letra delineada, e o talento que outrora relegou, não o fez por milagres um virtuose; pensou ainda uma oração potente... mas as forças de suas crenças não o permitiu ir muito longe, apenas: “Por favor meu Deus!”, mas em meio a uma confusão de lágrimas.
            Vai até a estante, recolhe o livro espesso, abre-o como quem abre a geladeira depois de uma caminhada num deserto de sal: “Era um botão feliz / Sorrindo para o Azul, zombando da matéria...”. Apercebeu-se que uma barata desabotoava as asas, mas... Uh! Conseguiu encerrá-la nas mãos e sem concessões a pôs na boca, mastigou um pouco; o hálito rançoso, os olhos abertíssimos concentrando-se na luz amarela da lâmpada. Engoliu e sentou-se. Antes que amanhecesse, pois que uns escassos raios de sol invadiam a sala, adormeceu no último suspiro de inocência.

[Madjer]
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