Então eu encontrei você,e tudo o que acontecia era sentido (e não falado) de uma forma tão fluida que eu sentia meu coração escorrer de felicidade no fluxo de um córrego. A partir dali nos tornaríamos uma poção miscível em uma só e que faria render sua fórmula. Tudo era tão natural e tão completo que era arrastado por essa plenitude fluvial.
Mas o tempo passou e um dia eu soube que você queria ir; que queria caminhar em outra direção. E o que senti não foi raiva, rancor ou orgulho ferido, mas uma melancolia insustentável, que com sua gravidade plutônica pesou sobre meus ombros e transformou tudo ao redor em um limbo turvo, cinza e pesado, envolto pelas cargas elétricas de uma nebulosa.
E a minha tristeza era tão infinita que passou a construir e afetar meu mundo, com seus raios de ondas-gama que coloriram meu lugar e a mim própria de tons de rosa e anil como a fase azul de Picasso. Meu corpo passou a ser um tênue raio de cores tristes.
Foi quando você apareceu com aquela mulher, mas - mais uma vez - tudo foi sentido e não falado. Você ainda iria ser Eu, só não estava preparado - eu sabia que não estava preparado - mas ficamos diante um do outro e pude sentir a aquarela adocicada do teu olho bonito. Foi quando você me encarou e disse:
"Meu amor, há beleza demais para se ver."
Agora eu sabia que podia viver de detalhes e erguer o meu próprio mundo a partir deles. Lançei vôo envolta por um globo de energia luminosa que deixava seu rastro dourado pelo espaço. E eu me permiti controlar meu próprio sonho, vivendo sensações de paz e alegria incomensuráveis.
E foi assim que eu tive o meu primeiro sonho vivido.
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