C. detém-se estática por longo instante. Quando foi a última vez que chorei? Ela tenta lembrar parada bem no meio da cozinha. Muita coisa deixada pra trás, estancada. Foi o jeito. Toma a faca com displicência e abre uma babosa suculenta. O centro pegajoso e fedorento traz à tona a desforra: a lâmina enfiada no ventre dele, suas órbitas tremeluzindo surpresa e desespero mudo. O tempo não descoloriu nenhum detalhe, pelo contrário, destila em bálsamo.
Tecendo a Escritura
C. detém-se estática por longo instante. Quando foi a última vez que chorei? Ela tenta lembrar parada bem no meio da cozinha. Muita coisa deixada pra trás, estancada. Foi o jeito. Toma a faca com displicência e abre uma babosa suculenta. O centro pegajoso e fedorento traz à tona a desforra: a lâmina enfiada no ventre dele, suas órbitas tremeluzindo surpresa e desespero mudo. O tempo não descoloriu nenhum detalhe, pelo contrário, destila em bálsamo.
Jesus Ximenes.
Jesus Ximenes.
Chegou em casa comida não tinha.
Jesus Ximenes.
[Madjer]
Nathan Matos
Enlouqueceu Sancho?
Nathan Matos
Terra à vista, gritou Cabral.
E nadou em direção às índias.
Nathan Matos
Luciana Braga (29.09.10).
-Se eu for aí...te dou uma tamancada..
-Mãe, quando a senhora vier me dar uma tamancada...
me traz um copo de leite.
Jesus Ximenes.
Jesus Ximenes.
Jesus Ximenes.
Sou carne. Pessoa. Gente.
Mistura do tudo e do nada.
Dentro e fora. Escuro e claro.
Rejeitos do limiar
entre proibido e permitido.
Contexto: jogo de plural
e complexo interesse.
Esfumaçado elo entre
Tatiane Sousa
foto: Cleomir Alencar
carne viva
unhas retorcidas
crostas mortas
quadro vivo
corpo na cama
fios saltados da face
um coelho homem
inesquecível
esvai-se porém
sua imagem
antes da catástrofe
detalhes e traços
desbotam imprecisos
eis uma hipótese:
ele se torna sensação
José Ailson Lemos
Imagem: Francis Bacon
Keyla Freires
Keyla Freires
Klimt |
Como na pintura
pinta-se o pintor
poeta-se o poeta
na poesia
a natureza:
ela me pinta
apresenta-se
em tela
vejo o mundo
ele me escreve
mostra-se
em texto
ela se pinta em mim
ele se escreve em mim
problema: que fazer com isso
Então eu encontrei você,e tudo o que acontecia era sentido (e não falado) de uma forma tão fluida que eu sentia meu coração escorrer de felicidade no fluxo de um córrego. A partir dali nos tornaríamos uma poção miscível em uma só e que faria render sua fórmula. Tudo era tão natural e tão completo que era arrastado por essa plenitude fluvial.
Mas o tempo passou e um dia eu soube que você queria ir; que queria caminhar em outra direção. E o que senti não foi raiva, rancor ou orgulho ferido, mas uma melancolia insustentável, que com sua gravidade plutônica pesou sobre meus ombros e transformou tudo ao redor em um limbo turvo, cinza e pesado, envolto pelas cargas elétricas de uma nebulosa.
E a minha tristeza era tão infinita que passou a construir e afetar meu mundo, com seus raios de ondas-gama que coloriram meu lugar e a mim própria de tons de rosa e anil como a fase azul de Picasso. Meu corpo passou a ser um tênue raio de cores tristes.
Foi quando você apareceu com aquela mulher, mas - mais uma vez - tudo foi sentido e não falado. Você ainda iria ser Eu, só não estava preparado - eu sabia que não estava preparado - mas ficamos diante um do outro e pude sentir a aquarela adocicada do teu olho bonito. Foi quando você me encarou e disse:
"Meu amor, há beleza demais para se ver."
Agora eu sabia que podia viver de detalhes e erguer o meu próprio mundo a partir deles. Lançei vôo envolta por um globo de energia luminosa que deixava seu rastro dourado pelo espaço. E eu me permiti controlar meu próprio sonho, vivendo sensações de paz e alegria incomensuráveis.
E foi assim que eu tive o meu primeiro sonho vivido.
Esse tremor musicado pela melodia das palavras as transcende; transcende o “ela”. Suas ondas sonoras atingem os confins do inefável e escapam às suas mãos.
Atormentada por essa melodia, ela tenta torná-la concreta tecendo a escritura. Mas dar forma a uma massa amorfa é uma caminhada trôpega e desencontrada: é o fio de Ariadne que não encontra a solução do labirinto; é a manta de Penélope que é construída e desfeita a cada dia; é tecer o infinito sem o julgamento das Moiras para determinar seu desfecho.
E nessa busca em espiral, Ela sente que o propósito de tecer é voltar à paz amniótica do embrião em seu início. É, num mundo onírico infantil, a luta para atravessar os sete céus e aprisionar um punhado de poeira das estrelas nas mãos.
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- Escrever?
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- Não me nego. Sou carne. Pessoa. Gente. Mistura do ...
- Estudo para uma figura derradeira
- UM POEMA DE AMOR
- "A FORÇA DO MAR"
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- Má sorte do desejo
- Amor perfeito
- Diálogo com a página em branco
- Falho ato da escrita
- Texere
- confessus
- Ut pictura poiesis
- Amor amado armado amarelo azul amém Matér...
- Sonho Vivido
- I Found a Reason
- O que é escrever?
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setembro
(35)
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Mas não se mata uma lembrança? |
C. detém-se estática por longo instante. Quando foi a última vez que chorei? Ela tenta lembrar parada bem no meio da cozinha. Muita coisa deixada pra trás, estancada. Foi o jeito. Toma a faca com displicência e abre uma babosa suculenta. O centro pegajoso e fedorento traz à tona a desforra: a lâmina enfiada no ventre dele, suas órbitas tremeluzindo surpresa e desespero mudo. O tempo não descoloriu nenhum detalhe, pelo contrário, destila em bálsamo.
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A viagem |
Caiu. Cabeça bateu. Para o sétimo andar inferior comprou passagem. As roupas brindes foram.
Jesus Ximenes.
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[Madjer]
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Memória(r) |
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Aquele que eu amo |
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Suplício |
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Eu te alcanço! |
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Mulher |
Aos cinquenta, ela pensa: "Não deveria ter deixado que o fogo da razão transformasse em cinza os meus selvagens sonhos puros".
Luciana Braga (29.09.10).
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Custo-benefício |
-Mãe, me traz um copo de leite!
-Se eu for aí...te dou uma tamancada..
-Mãe, quando a senhora vier me dar uma tamancada...
me traz um copo de leite.
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Viva |
Jesus Ximenes.
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Escrever? |
Jesus Ximenes.
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O sinal de trânsito |
Jesus Ximenes.
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Não me nego.
Sou carne. Pessoa. Gente.
Mistura do tudo e do nada.
Dentro e fora. Escuro e claro.
Rejeitos do limiar
entre proibido e permitido.
Contexto: jogo de plural
e complexo interesse.
Esfumaçado elo entre
Tatiane Sousa
foto: Cleomir Alencar
[+/-] |
UM POEMA DE AMOR |
[+/-] |
"A FORÇA DO MAR" |
[+/-] |
"A Arte" inspirada no "Os corvos" |
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Má sorte do desejo |
Keyla Freires
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Amor perfeito |
Keyla Freires
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Diálogo com a página em branco |
[+/-] |
Texere |
[+/-] |
confessus |
Klimt |
[+/-] |
Ut pictura poiesis |
Como na pintura
pinta-se o pintor
poeta-se o poeta
na poesia
a natureza:
ela me pinta
apresenta-se
em tela
vejo o mundo
ele me escreve
mostra-se
em texto
ela se pinta em mim
ele se escreve em mim
problema: que fazer com isso
[+/-] |
Sonho Vivido |
Eu rodopiava em loopings numa velocidade supersônica, num céu que se configurava como um mosaico de cores distorcidas e vibrantes, conferindo ao ocaso a beleza de uma alucinação. E a minha alegria espalhava-se através de partículas em suspensão. Era uma nuvem de pólen que trazia paz e equilíbrio à minha euforia caótica.
Então eu encontrei você,e tudo o que acontecia era sentido (e não falado) de uma forma tão fluida que eu sentia meu coração escorrer de felicidade no fluxo de um córrego. A partir dali nos tornaríamos uma poção miscível em uma só e que faria render sua fórmula. Tudo era tão natural e tão completo que era arrastado por essa plenitude fluvial.
Mas o tempo passou e um dia eu soube que você queria ir; que queria caminhar em outra direção. E o que senti não foi raiva, rancor ou orgulho ferido, mas uma melancolia insustentável, que com sua gravidade plutônica pesou sobre meus ombros e transformou tudo ao redor em um limbo turvo, cinza e pesado, envolto pelas cargas elétricas de uma nebulosa.
E a minha tristeza era tão infinita que passou a construir e afetar meu mundo, com seus raios de ondas-gama que coloriram meu lugar e a mim própria de tons de rosa e anil como a fase azul de Picasso. Meu corpo passou a ser um tênue raio de cores tristes.
Foi quando você apareceu com aquela mulher, mas - mais uma vez - tudo foi sentido e não falado. Você ainda iria ser Eu, só não estava preparado - eu sabia que não estava preparado - mas ficamos diante um do outro e pude sentir a aquarela adocicada do teu olho bonito. Foi quando você me encarou e disse:
"Meu amor, há beleza demais para se ver."
Agora eu sabia que podia viver de detalhes e erguer o meu próprio mundo a partir deles. Lançei vôo envolta por um globo de energia luminosa que deixava seu rastro dourado pelo espaço. E eu me permiti controlar meu próprio sonho, vivendo sensações de paz e alegria incomensuráveis.
E foi assim que eu tive o meu primeiro sonho vivido.
[+/-] |
I Found a Reason |
Sempre que aquela angústia se espalha por seu corpo sob a forma de um formigamento virulento, seu “eu” torna-se “ela”. O embrião encharcado de sangue, vida e vísceras transporta-se para a esfera da palavra, multiplicando suas células e (des)organizando-se em um mundo etéreo, com sua própria estrutura atômica, nessa desordenada alquimia do impalpável.
Esse tremor musicado pela melodia das palavras as transcende; transcende o “ela”. Suas ondas sonoras atingem os confins do inefável e escapam às suas mãos.
Atormentada por essa melodia, ela tenta torná-la concreta tecendo a escritura. Mas dar forma a uma massa amorfa é uma caminhada trôpega e desencontrada: é o fio de Ariadne que não encontra a solução do labirinto; é a manta de Penélope que é construída e desfeita a cada dia; é tecer o infinito sem o julgamento das Moiras para determinar seu desfecho.
E nessa busca em espiral, Ela sente que o propósito de tecer é voltar à paz amniótica do embrião em seu início. É, num mundo onírico infantil, a luta para atravessar os sete céus e aprisionar um punhado de poeira das estrelas nas mãos.
[+/-] |
O que é escrever? |
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2010
(113)
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setembro
(35)
- Mas não se mata uma lembrança?
- A viagem
- Vergonha
- Pinga
- Memória Como num grande museuonde línguas incomu...
- Memória(r)
- Aquele que eu amo
- Suplício
- Eu te alcanço!
- Felicidade
- Dragões
- Brasil
- Mulher
- Sem título
- Custo-benefício
- À espera do fim
- Viva
- Escrever?
- O sinal de trânsito
- Não me nego. Sou carne. Pessoa. Gente. Mistura do ...
- Estudo para uma figura derradeira
- UM POEMA DE AMOR
- "A FORÇA DO MAR"
- "A Arte" inspirada no "Os corvos"
- Má sorte do desejo
- Amor perfeito
- Diálogo com a página em branco
- Falho ato da escrita
- Texere
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